A experiência da We Save com clientes nos mercados livre e regulado mostra uma lista de problemas na interface com as concessionárias, aponta CEO da consultoria, Lucas Souza
Por Nelson Valencio

Lucas Souza (Divulgação)
As distribuidoras são frequentemente a origem das irregularidades e erros nas contas de energia, independente de o cliente ser cativo ou não. Essa é a avaliação de Lucas Souza, CEO da consultoria We Save. A experiência da empresa com clientes nos mercados livre e regulado mostra uma lista de problemas na interface com as concessionárias.
De acordo com Souza, os problemas principais são as falhas de faturamento, como classificação errada do consumidor, impostos cobrados de forma equivocada e período de leitura irregular. Os equívocos de faturamento devido à falta de atualização da base de clientes igualmente são comuns.
Os erros também podem ser técnicos, caso dos medidores desregulados, o que leva a cobranças maiores, ou ainda o monitoramento errado do fator de potência, que pode levar à aplicação de multas para os consumidores de alta tensão.
“Até mesmo por um ‘apetite ao risco’, as distribuidoras podem cobrar a fatura por meios que contrariam as disposições legais”, complementa Souza.
A correção das irregularidades, pelo histórico do especialista, pode levar a uma redução de até 30% em clientes cativos e uma média que oscila entre 5% e 10% naqueles que já ingressaram no mercado livre. Nesse último caso, Souza lembra que os problemas – apesar da interface das comercializadoras – ainda estão localizadas nas distribuidoras.
“As comercializadoras oferecem redução de custos por meio de tarifas menores e otimização do consumo, mas às vezes focam em análises óbvias ou comparações básicas, podendo deixar passar detalhes de faturamento e questões relacionadas à rede das distribuidoras”, argumenta.
De acordo com o especialista, o aprofundamento da análise pode identificar oportunidades adicionais de economia e restituições que têm a possibilidade de serem resgatadas. O foco, para isso, é uma abordagem técnico-regulatória.
O erro de algumas comercializadoras, segundo ele, é focar apenas nos aspectos técnicos da instalação dos clientes do mercado livre e não ter um entendimento melhor da regulação imposta às distribuidoras. O receituário de correção envolve a adoção de um compliance regulatório, no qual a auditoria detalhada das contas de consumo é acompanhada de uma avaliação de como se pode recuperar valores cobrados incorretamente.
“O coração do processo é a abertura de procedimentos administrativos nas distribuidoras, fundamentando os pedidos em legislações federais, estaduais e nas disposições da Aneel, que é muito ativa na regulação do setor”, resume Souza. Em alguns casos, ele defende o uso do Código de Defesa do Consumidor para buscar a restituição em dobro de cobranças indevidas.
Outra forma de fortalecer os pedidos de restituição de cobranças indevidas é usar a base de dados de clientes com consumos similares. Nesse caso, sem identificar o consumidor por questões de privacidade, o trabalho da consultoria acrescenta o critério de isonomia (se clientes com características similares gozam de um benefício, outros também deveriam) para fundamentar o pedido.
“As distribuidoras geralmente tendem a aceitar os pedidos de correção e restituição, quando são juridicamente fundamentados, para evitar a formalização de novos precedentes ou processos judiciais em massa”, finaliza Souza.

Notícia publicada no site da revista Brasil Energia em 27/06/2025